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Caro Amante E Estudioso da Arte Animada

Estamos no nosso 3o. ano de constante alimentação do nosso animado index, AdA, onde tivemos o apoio da Professora Dra. Índia Martins (UFF),...

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Valsa com Bashir

 

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 03/02/2013)


Autor: Eliane Gordeeff
RevistaEducação Pública
ÓrgãoFundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Ano: 2009

País: Brasil

Desde 3 de abril, está em cartaz no circuito brasileiro Valsa com Bashir, um documentário em longa-metragem sobre o massacre de palestinos durante a guerra entre Israel e Líbano ocorrida em 1982. Produção franco-germano-israelense, dirigido por Ari Folman, o filme tem sido destaque ao redor do mundo não só pelo seu resultado final (como obra cinematográfica e pelo roteiro bem resolvido), mas principalmente pela escolha da linguagem gráfica utilizada. Folman utilizou animação para retratar os horrores da guerra, resgatados a partir de suas próprias lembranças e de depoimentos de sete colegas do exército.

Conhecido como “Guerra do Líbano”, o conflito foi iniciado com a invasão do Líbano por Israel, em junho de 1982, e culminou com o massacre de cerca de 3.000 refugiados palestinos. Estes, em sua maioria crianças, idosos e mulheres, estavam nos campos de Sabra e Chatila e foram mortos pelos “falangistas” cristãos.

Os objetivos israelenses eram eliminar o risco de o norte do país ser alvo de mísseis e garantir Bashir Gemayel, líder cristão e aliado político, como presidente do Líbano. Em agosto, às portas de Beirute, enquanto o exército israelense aguardava o comando para entrar na cidade, os combatentes palestinos foram evacuados em navios para Tunísia. No mesmo período, Bashir Gemayel foi eleito presidente, mas logo depois foi assassinado numa explosão enquanto discursava no quartel falangista em Beirute.

Ao cair da noite, em represália, as milícias cristãs entraram nos campos de refugiados palestinos. Por dois dias inteiros foram ouvidos tiros incessantes vindos dessas regiões, iluminadas à noite pelos fogos de comunicação israelenses. O massacre só chegou ao fim quando mulheres sobreviventes se projetaram sobre as forças israelenses que cercavam a cidade e a imprensa internacional tomou conhecimento do fato.

Esses tristes acontecimentos estão documentados em Valsa com Bashir, do ponto de vista dos jovens soldados israelenses enviados para a guerra. A história se desenrola a partir de um encontro num bar entre Ari Folman, personagem principal do documentário, e um amigo. Ele conta a respeito de um sonho recorrente sobre o período do conflito. Porém o sonho, como todo sonho, era confuso, em flashes, e não fazia muito sentido. Outra coisa que o incomodava era o fato de não se recordar de qualquer episódio vivido por ele no durante a guerra do Líbano, por mais que se esforçasse. Aconselhado pelo amigo, Ari começa a contactar outros ex-combatentes, colegas seus, à procura das próprias lembranças.

Intercalando depoimentos, sonhos e as lembranças que vão emergindo de sua mente, Folman conta a história de forma cronológica e documenta não só os fatos mas também a construção de suas recordações.

Todas as cenas são feitas em animação – desde os sonhos até os ataques aéreos. Mesclando desenhos em 2D e 3D, utilizando traços de contornos grossos, marcantes e cores chapadas, a produção possui uma estética gráfica influenciada pelos quadrinhos de Art Spiegelman.

As cenas de guerra, coloridas, acompanhadas por uma forte trilha sonora punk - que lembra um ambiente psicodélico, ligadão -, são seguidas por outras com estética mais limpa, em que predominam cores frias, tons pastéis, quase sem ruídos – cenas que remetem à ressaca pós-droga. A maneira como os fatos são apresentados é uma viagem através das imagens marcantes dos desenhos, de onde, ao final, o espectador é despertado de forma definitiva (não vale contar o final do filme). É uma alusão ao choque de consciência resultante da tomada de conhecimento quanto aos fatos da guerra (e talvez das consequências do uso de drogas), fazendo um paralelo com o despertar das lembranças do próprio Ari Folman.

É uma verdadeira graphic novel, tão atrativa ao público jovem quanto as HQs. Segundo o próprio diretor – em sua entrevista para o Cahiers du Cinéma -, o objetivo era mesmo atrair a atenção dos mais jovens para o assunto, mas sem a idolatria à imagem do soldado poderoso e heroico, tão comum nos filmes estadunidenses. O objetivo era justamente o oposto: um documentário sobre a guerra, porém contra a guerra, contando inclusive as consequências dela nas vidas dos sobreviventes.

Como linguagem documental, o filme segue a vertente da participação do documentarista na história. Ele apresenta não só os fatos históricos de guerra (durante as narrativas dos combatentes) mas também estados de consciência e sonhos do protagonista/diretor. A utilização da linguagem animada é especialmente positiva nesses momentos, já que a expressividade de sensações encontra sintonia com o lirismo dos desenhos. A possibilidade surreal da animação merece destaque em dois momentos: durante a descrição de um estado de embriaguez de Folman, pouco depois do embarque dos soldados para o Líbano, onde ele se sente como que levado sobre a barriga de uma mulher através dos mares; e na cena da chegada a Beirute, em que um soldado israelense dança numa das ruas da cidade, disparando uma metralhadora, tendo o cartaz de Bashir Gemayel ao fundo. O documentário recebeu indicação para o Oscar 2009 e ganhou o Globo de Ouro e o Festival de Cannes – era o único concorrente longa em animação.

Quanto à utilização das técnicas de animação, Valsa com Bashir merece algumas ressalvas na exatidão da representação de alguns movimentos (um tanto duros), no timing, mas essas imperfeições não afetam ou diminuem a força das imagens, que parecem fazer parte de um estilo da direção de arte composto para a narrativa.

Ari Folman tem sido apontado erroneamente como o criador de um “subgênero de documentário”: o documentário animado. Assim como contar fatos através da animação é muito mais comum e antigo que o alcance da lembrança da maioria dos críticos de cinema, a animação enquanto linguagem não é subgênero de qualquer outro gênero de cinema tipo vida-real. Winson McCay já registrava em seus desenhos (1918) o naufrágio do Lusitânia, ocorrido em 1915, já que na época não havia registro de imagem real de acidentes.

A utilização de animação para retratar o mundo o imaginário ou lembranças é mais usual ainda. No Brasil temos dois exemplos marcantes: a sequência da lembrança da infância do personagem André (Lázaro Ramos), no filme O Homem que Copiava (2003), de Jorge Furtado, e a primeira cena da novela Bang Bang (Rede Globo, 2006), que contava um fato passado (o assassinato de uma família) que deu origem a uma vingança, conflito principal da trama.

O valor e o destaque a serem dados a Ari Folman devem-se ao fato de ele ter conseguido utilizar a animação de forma impactante, integrando forma, conteúdo e o meio (veículo), de maneira que sua mensagem pôde ser transmitida o mais completamente possível em termos narrativos e audiovisuais. E ele não teve pudores em escolher a linguagem da animação para alcançar seu objetivo.

Valsa com Bashir foi transformado em HQ, lançada no Brasil pela L&PM.

Palavras-chave: Documentário, Rotoscopia, Graphic Novel, Guerra

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Mary e Max, uma Amizade Diferente

  

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 10/10/2012)


Autor: Eliane Gordeeff
RevistaEducação Pública
ÓrgãoFundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Ano: 2010

País: Brasil

Mary e Max – Uma amizade diferente, longa-metragem em animação que está em cartaz no circuito brasileiro, aborda uma amizade improvável entre um nova-iorquino de 44 anos e uma menina australiana de oito. Ambos são solitários e, apesar das diferenças de idade e de cultura, o relacionamento vai se estabelecendo na base da confidência e do apoio mútuos, através das inúmeras cartas trocadas entre eles ao longo de 18 anos.

Max Jerry Horowitz é judeu, obeso, com síndrome de Asparger (um tipo de autismo); frequenta com relutância as reuniões dos Vigilantes do Peso e mora sozinho em Nova York. Seu único amigo é Afonso Ravioli, um amigo imaginário que vive sentado num banquinho de madeira num canto do cômodo – depois que seu psiquiatra lhe disse que ele não existe. Max também divide seu apartamento com o gato Hal – abreviatura de Halitose (Max tem mau hálito) –, que sempre come o peixinho do aquário do dono. É viciado em cachorro-quente com barra de chocolate (ao invés de salsicha).

Do outro lado do mundo, na Austrália, Mary Daisy Dinkle é a filha única não planejada de um casal. Gordinha e desprezada pelos colegas de escola, tem uma manchinha na testa “cor de coco”, segundo ela mesma. Sua mãe é fumante e alcoólatra (sonhava ser cantora) e o pai é operário de uma fábrica de chá, responsável por colocar os barbantinhos nos saquinhos de chá. O único amigo da menina é o vizinho Len, que perdeu as pernas na II Guerra Mundial, sofre de agorafobia (transtorno de ansiedade) e não sai de casa. Mary tem amizade também pelo galo Mister Biscuit, seu bichinho de estimação, e adora leite condensado.

Lendo isso tudo, é possível achar graça e qualquer um pode pensar que se trata, no mínimo, de uma piada de mau gosto. Mas esses personagens compõem o núcleo principal desse filme animado, produzido na técnica stop motion – a mesma utilizada nos filmes Fuga das Galinhas e A Noiva Cadáver –, mas que, como você já deve ter constatado, não tem nada de infantil.


Apesar das diferenças e da distância entre os dois personagens, a amizade entre eles nasce por meio de uma carta enviada por Mary, aleatoriamente, a um remetente de Nova York. Seu dedinho cai sobre o nome de Max, na lista de um catálogo de endereços da agência dos correios. Ela quer um amigo com o qual possa conversar e lhe responder de onde vêm os bebês – já que a mãe lhe disse que nascem de copos de cerveja. Max recebe a carta surpreso – tem um pequeno ataque de ausência –, mas se interessa em responder àquela carta que vem de tão longe, escrevendo que em Nova York “os judeus nascem de ovos postos por rabinos; os católicos, por ovos postos por freiras; e os ateus, por ovos postos por prostitutas”. O drama e a comédia permeiam a narrativa constantemente. Dessa troca de cartas, aparentemente absurda, inicia-se uma profunda amizade entre dois seres absolutamente solitários. Max nunca teve um amigo (a não ser Afonso Ravioli) nem um relacionamento com uma mulher, enquanto Mary é hostilizada por seus colegas de escola e não tem a atenção de seus pais.

É a solidão que reforça a troca de experiências e a cumplicidade entre os dois correspondentes, apesar de todas as diferenças, regadas a muito chocolate e leite condensado – ambos são apaixonados por doce, como não poderia deixar de ser. Assim Mary vai se tornando uma mulher – com todas as mudanças decorrentes desse fato: se casa, se gradua –, enquanto Max engorda, ganha na loteria, se desfaz do dinheiro, é internado algumas vezes... E por aí vai. É esse o grande destaque de Mary e Max: é a riqueza na construção dos personagens e das situações pesadas, de sofrimento real (são representações de sofrimentos verdadeiros), mas sem cair no vulgar, mesclando com momentos cômicos – a vida não é assim?

O desenrolar da história vai apresentando outras situações que provocam reflexões sobre comportamentos sociais, sobre abandono, consumo, limitações humanas, o valor do dinheiro, o respeito e logicamente, a amizade – não há como não lembrar de Nunca te vi, sempre te amei (1987).

E isso através de bonecos.

Em termos estéticos, os personagens e todo o design da animação é um pouco caricato, e mantém o desenho de outras produções do diretor/animador Adam Elliot, seguindo a mesma narrativa melancólica de Harvei Krumpt (2003), curta-metragem que lhe rendeu o Oscar de Melhor Animação. O ambiente de Nova York é retratado em tons de cinza – a cidade fria –, enquanto o australiano é mostrado em tons terrosos. O colorido só aparece em elementos que sinalizam prazer e afeto para os personagens: no pompom que Mary envia a Max, na língua dos personagens (ambos têm prazer em comer), nos chocolates, milk-shakes, nos lábios das personagens femininas. Os pensamentos dos personagens são apresentados na tela por meio de animações, em sua maioria em desenho animado, e não com bonecos. Isso cria uma diferença imagética dentro da história, entre o que acontece e o que é imaginado pelos personagens.

Emprestam suas vozes Toni Collete (Pequena Miss Sunshine) para Mary adulta, Philip Seymour Hoffman (Capote) para Max, e Eric Bana (Munique) para Damien – o amor de Mary. A narração é feita pelo ator australiano Barry Humphries. É possível também reconhecer várias músicas que pontuam a história.


Mary e Max é um filme que deve ser visto por todos, mesmo por crianças. Numa sociedade tão individualista, em que a tecnologia nos aproximou nos distanciando cada vez mais, é bom ver aquele personagem solitário recebendo e lendo cartas – por correio, não é e-mail – escritas à mão por sua pequena amiga. Não há como não se identificar com Max quando este olha pela janela de seu apartamento ou quando assiste à TV. Este filme é uma ótima fonte de questionamentos, reflexões e aprendizado.

Escrito e dirigido por Elliot, Mary e Max foi baseado na história do próprio Elliot, que teve um amigo (com Síndrome de Asparger) morador de Nova York, com o qual se correspondeu por 20 anos. Foi selecionado para a noite de abertura do Sundance Film Festival de 2009, premiado no Festival de Animação de Annecy (o mais importante na área), no Festival de Zagreb e no de Stuttgart, entre outros.

Mais informações, visite http://www.maryandmax.com/
Para ver o trailer, acesse: http://www.youtube.com/watch?v=MgRjB8PEDkM

Para o texto completo, clique aqui!

Uma Odisseia Onírica Infantil

    

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 17/10/2011)


Autor(a): Karla Hansen
Revista: Revista Educação Pública do Estado do Rio de Janeiro
Órgão: Fundação Cecierj
Ano: 15/01/2004
PaísBrasil.

O filme de animação "A Viagem de Chihiro", uma fábula japonesa,  arrebatou prêmios em todo o mundo (entre eles, o Oscar de melhor filme  de animação e o Urso de Ouro no Festival de Berlim) e tanto o público infantil quanto o adulto.

Chihiro  é uma menina mimada e medrosa que está viajando de mudança  para outra cidade com seus pais. Só que, num desvio do caminho, eles  param diante de um velho túnel e resolvem investigar. O pai toma a  frente, determinado a explorar o misterioso túnel, a mãe o segue e  Chihiro choraminga, querendo ficar, mas logo o medo de ficar sozinha  é  maior e ela corre atrás dos adultos, se agarrando aos braços da mãe. Do  outro lado, há um parque abandonado e uma típica vila tradicional  japonesa, completamente desabitada. Nas ruas, lojas de comida exibem  pratos fresquinhos em abundância. Com fome e atraídos pelo aroma das  iguarias, os pais de Chihiro resolvem sentar e comer. Enquanto isso, a  menina decide conhecer o lugar e encontra o menino Haku, que a orienta a  sair dali antes do pôr-do-sol. Assustada, Chihiro volta correndo ao  encontro dos pais e descobre que eles foram transformados em porcos.

Tarde demais! Chihiro está presa a esse mundo encantado, povoado por  espíritos, animais e criaturas estranhas, que vivem sob o comando tirânico da malvada feiticeira Yubaba. Aí, nossa pequena protagonista  recebe um novo nome, Sen, e precisa vencer uma série de obstáculos, como  conseguir trabalho para livrar seus pais do feitiço e descobrir um modo  de voltar para seu mundo, recuperando seu verdadeiro nome. No início,  com a ajuda de Haku, Chihiro é então iniciada neste mundo paralelo e sua  aventura se torna um aprendizado sobre os valores fundamentais da vida.  Na estadia nesse mundo fantástico, a menina descobre que só com a  solidariedade de amigos e aliados ela consegue vencer as dificuldades, e  sua maior recompensa  é o seu crescimento pessoal e a afirmação de sua  própria identidade.

Além da riqueza do conteúdo, o desenho  é primoroso e todo feito agrave;  mão, antes de passar pelos processos da indústria cinematográfica. São  mais de duas horas (125 minutos) de pura fantasia, uma odisseia cheia de  surpresas e simbologias, que nos prende a atenção do princípio ao fim e  nos faz sentir como se estivéssemos mergulhados num longo sonho. Detalhe importante: já existem cópias dubladas do filme.

Palavras-chaveAnimação Japonesa, A Viagem de Chihiro, Animação clássica, Hayao Miyazaki.

 

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De Tirar o Fôlego

   

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 14/10/2011)


Autor(a): Lorenzo Aldé
Revista: Revista Educação Pública do Estado do Rio de Janeiro
Órgão: Fundação Cecierj
Ano: 2004[?]
PaísBrasil.

A Pixar, produtora que está revolucionando a linguagem da animação, tem o costume de divulgar seus filmes com muita antecedência: ao lançar um filme hoje, já trata de exibir um trailer sobre o que está aprontando para o ano que vem.

Assim, quem tem filhos pequenos ou é amante da animação há tempos já sabia que o próximo filme da Pixar seria uma trama no fundo do mar. Ao deixar a sala de projeção ainda de queixo caído depois de assistir ao impecável "Monstros S/A" (2001), na minha cabeça já martelava aquela dúvida fininha e antecipada: "Será que essa história de peixinhos vai ser tão boa assim?". No íntimo, duvidava dessa possibilidade. Nada poderia superar Toy Story e Monstros S/A. Recém-criada, a Pixar atingira o auge rápido demais. Manter-se no topo seria tarefa inglória...

Pois é hora de me penitenciar: nunca mais duvidarei do talento dessa turma. A "história de peixinhos" chama-se "Procurando Nemo" e é na verdade uma epopeia de tirar o fôlego.

A imagem idílica que temos do mar, ao menos nos desenhos animados, é posta agrave; prova logo na primeira cena, quando a mãe do personagem-título é devorada por uma barracuda, junto com 399 de suas 400 ovas que estavam para nascer (numa homenagem explícita ao clássico "Bambi", da parceira Disney). O pai resolve batizar o único sobrevivente de Nemo, o nome preferido da mãe, e promete que nunca deixará que nada lhe aconteça.

A forte carga dramática dessas primeiras sequências mobiliza o espectador para a enxurrada de emoções que vem pela frente. Mas engana-se quem pensa em melodrama agrave; la Disney, com princesas saudosas, heróis bonitões e números musicais ora divertidos ora românticos. Estamos falando de um desenho Pixar, para quem o imprevisível é a regra, e cuja sensibilidade consegue tornar os personagens humaníssimos, sejam eles peixes, polvos, tubarões ou pelicanos.

Nemo cresce superprotegido pelo pai e pelo corais, num mundo onde os seres marinhos convivem pacificamente. A câmera passeia rápida como um peixe no meio da estonteante diversidade de cores, luzes e formas daquele universo, e nos carrega junto (em algum momento, a mente adulta se lembrará, embasbacada: "Gente, é tudo computador!...").

Mas Nemo cresce, e chega o inevitável momento de confrontar o pai, de afirmar-se enquanto peixe, demonstrando sua coragem e superando a limitação física (sua barbatana direita é atrofiada). Mas o gesto da simples ousadia juvenil vê-se interrompido drasticamente pelo destino, e eis que Nemo é capturando sem apelação e levado para longe, muito longe de casa. Aqui começa a epopeia de Marlin, pai de Nemo, que terá que superar seu trauma e encarar o mar aberto agrave; procura do filho, que agora habita um aquário de dentista, numa metrópole a milhas dali.

Como contraponto agrave; tristeza do pai, entra na trama, por puro acaso, a divertida peixinha azul Dori, que sofre de perda da memória recente (o que gera os momentos mais engraçados do filme). O otimismo inabalável de Dori era o que faltava ao desesperado Marlin, para motivá-lo a enfrentar todas as adversidades do Mar. E o filme resolve, como um deus impiedoso, impor ao nosso herói as mais terríveis dificuldades, uma após a outra, para testar sua perseverança e fazer valer a sua luta. No fim das contas, para ensinar-lhe muitas lições e transformá-lo em outro homem, quer dizer, em outro peixe.

é ou não é uma epopeia?

Enquanto isso, uma trama paralela se desenrola: confinado agraves paredes de um aquário, Nemo conhecerá outras espécies de peixe, todos muito solidários em seu pequeno mundinho, mas psicologicamente afetados por viverem em ambiente contrário agrave; sua natureza. Sua vida corre perigo: o dentista que o capturou planeja dá-lo de presente a uma sobrinha, típica criança-peste em cujas mãos nenhum bichinho pode sobreviver por mais de alguns dias. Um engenhoso plano de fuga terá que ser executado com perfeição, e rápido, para que ele se livre de tal sina. Assim como o pai, Nemo também deverá encarar testes de coragem e astúcia.

Como já deu para notar, por trás do humor (por sinal abundante e inteligente), "Procurando Nemo"; é um filme tenso. Não dá espaço para o público respirar (muito menos os pobres protagonistas), nem concede cenas decorativas ou de diversão vazia. Nenhum plano é jogado fora. Não há numerozinhos musicais, e sim uma trilha sonora (original, composta por Thomas Newman) densa, orquestral, que oscila entre euforia e angústia.

Diversas sequências antológicas atestam o esmero técnico da produção, e também sua ousadia. Não me lembro de ter visto um filme que deixasse a tela inteiramente escura por longos 20 ou 30 segundos (assim me pareceu), sem sequer um olhinho, uma sombra ou feixe de luz para não parecer que a imagem deu defeito. Assim são os abismos do mar: breu total.

Não bastasse o ritmo frenético, a qualidade do humor e a densidade da trama, o filme funciona como um inventário sobre a diversidade marinha, uma verdadeira aula de biologia. E uma constatação: ser peixe é muito perigoso!

Como poderá o pequeno peixe-palhaço (é o nome da espécie de Nemo e seu pai, mas eles não são tão engraçados) atravessar os sete mares e encontrar o filho, preso num aquário? Improvável? Sim, mas a história não apela para a fada madrinha ou qualquer tipo de magia. As situações são resolvidas dentro da lógica e sem buracos no roteiro (assim como a direção, assinado por Andrew Stanton).

Lá pelas tantas, Dori fica sabendo da promessa inicial de Marlin ao filho: "Não vou deixar que nada te aconteça", questiona o absurdo da intenção: "Se você não deixar nada acontecer, nada vai acontecer! Que promessa estúpida!". Bom recado para, nós, pais e mães: é preciso deixar que as coisas aconteçam a eles, é preciso deixá-los viver. Este é apenas um dos pequenos tesouros com que o filme nos brinda.

Enfim, a Pixar conseguiu se superar. Alguém poderá argumentar que "Procurando Nemo"; não é o filme ideal para crianças muito pequenas, acostumadas com o Ursinho Pooh e recém-saídas dos Teletubbies. Como explicar-lhes que o tubarão viciado (por instinto) em comer peixes decidiu seguir uma terapia de grupo para resistir agrave; tentação e não traçar "os amigos" (ele é bonzinho, então?), mas depois, ao sentir cheiro de sangue fresco, ataca sem piedade nossos heróis (então ele é mau?)? Pode ser. Mas mesmo que não entendam tudo, se divertirão com os carismáticos personagens e ficarão magnetizadas pelo ritmo da aventura.

Já as crianças mais velhas, os jovens e adultos não podem perder. Principalmente estes últimos, que, se ainda tinham algum preconceito, constatarão que animação é coisa séria, e pode ser melhor que muito filme...

PS.: Antes do filme, um trailer nos fez conhecer a próxima produção da Pixar, com estreia prevista para 2004: "Os Incríveis", aparentemente uma comédia satirizando os super-heróis. Poderá esse filme ser tão bom quanto "Procurando Nemo"? Eu não tenho o direito de duvidar...

Palavras-chaveAnimação Americana, Procurando Nemo, Animação 3D, Andrew Staton.

 

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Rio: Animação maravilhosa

   

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 14/10/2011)


Autor(a): Gabriel Cruz
Revista: Revista Educação Pública do Estado do Rio de Janeiro
Órgão: Fundação Cecierj
Ano: 19/01/2011
PaísBrasil.

O que faz um filme de animação ser classificado como bom? Essa foi uma das perguntas que vieram a minha cabeça nos últimos meses, desde as primeiras imagens de divulgação de Rio, filme produzido pela Blue Sky e dirigido pelo brasileiríssimo Carlos Saldanha.

Essa preocupação nasceu, entre outras coisas, pelo grande frisson causado tanto pela mídia quanto pelos fãs de animação. Muitos ficavam impressionados ao ver imagens de locais do Rio de Janeiro, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o calçadão de Copacabana, o Jardim Botânico, o Sambódromo e tantos outros pontos da Cidade Maravilhosa reconstruídos em computação gráfica. Temia que Rio fosse considerado um ótimo filme apenas por sua técnica e que sua história (pouco divulgada) não fosse tão boa assim.

Mas o temor já caiu por terra nos primeiros minutos de filme. Rio não falaria apenas de samba e Carnaval (forma escolhida por Disney para apresentar a Cidade Maravilhosa ao mundo na década de 1940), mas também viria tratar de outros assuntos importantes, como a preservação das espécies e até mesmo de questões de natureza social. [...]

Palavras-chaveAnimação Brasileira, Rio, Animação 3D, Carlos Saldanha.

 

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Sinfonia Amazônica: O primeiro longa-metragem brasileiro de animação

   

Resenha de Filme em Revista On-line
(indexado pela 1a. vez em 14/10/2011)


Autor(a): Gabriel Cruz
Revista: Revista Educação Pública do Estado do Rio de Janeiro
Órgão: Fundação Cecierj
Ano: 11/08/2009
PaísBrasil.

"Senhoras e senhores, eis a produção do primeiro longa-metragem de animação brasileiro. É um trabalho árduo, mas Deus é brasileiro e vamos conseguir.

Assim começa Sinfonia Amazônica, o primeiro longa-metragem brasileiro de animação, que estreou nos cinemas em 1953 e que foi exibido na edição de 2009 do festival Anima Mundi, em uma homenagem aos irmãos Latini. Em 2008, o longa foi exibido na Cinemateca do MAM pelo Cineclube Brasilis.

Logo no início do filme, o espectador é apresentado a um pequeno making of da produção. Nele vemos o desenhista Anélio Latini Filho, fascinado pela arte da animação, produzindo sozinho todos os elementos da produção: cenários, personagens, animações... Foram aproximadamente quinhentos mil desenhos produzidos diariamente das 8 da manhã até as 4 da madrugada do dia seguinte, durante quase seis anos, e muita boa vontade para produzir o longa que conta a história de sete lendas amazônicas, entre elas a do choro do Urutau, que deu origem ao Rio Amazonas, e a do surgimento da noite. [...]"

Palavras-chaveAnimação brasileira, Sinfonia Amazônica, Nélio Lattine.

 

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